ITAGUAÍ A PEDRA QUE NAO REFLETE...
**Itaguaí: A Pedra que Não Reflete**
Itaguaí, o nome que carrega a força das raízes indígenas — “ita”, pedra, e “guaí”, ponta. Um símbolo de solidez e permanência, como a cidade que se ergue entre o rio e o mar. Mas, às vezes, o significado literal não basta para traduzir o espírito de um lugar. Itaguaí, com sua fachada firme e suas tradições, tornou-se mais um limite do que um ponto de partida. Tornou-se uma cidade de reflexos opacos, onde o novo é visto com desconfiança e o futuro parece se perder nos labirintos do passado.
No centro desse paradoxo está a Academia de Letras de Itaguaí. Um edifício imponente, com suas colunas austeras e seus corredores ornamentados, que deveria ser um farol para as letras e as ideias. Mas suas portas, embora abertas ao público, guardam o segredo de serem fechadas à verdadeira mudança. A Academia não dá espaço para escritores que pensam além dos limites impostos pela tradição. Ficção científica? Isso não é literatura, dizem. Novas formas de criar usando tecnologia e inteligência artificial? Um absurdo. Os muros da Academia, invisíveis aos olhos de quem passa, são altos o suficiente para manter qualquer novidade fora.
John Raven era uma dessas vozes excluídas. Um escritor, sonhador, e, para muitos, um estranho. Suas histórias futuristas eram cheias de vida, de possibilidades e de uma paixão pela escrita que pulsava em cada página. Ele usava as tecnologias modernas, incorporava ferramentas de inteligência artificial para explorar novos universos narrativos, mas, para a Academia, isso era considerado uma afronta às tradições. “Aqui valorizamos a literatura verdadeira,” diziam os acadêmicos, como se palavras fossem propriedade de um pequeno grupo.
John tentou muitas vezes. Apresentou suas histórias, participou de eventos, buscou o diálogo. Mas as respostas eram sempre as mesmas: “Suas ideias não se encaixam nos nossos objetivos.” Ele caminhava pelas ruas de Itaguaí, olhando para o edifício da Academia, com uma mistura de tristeza e desafiadora resignação. Era como se a cidade que havia lhe dado um lar fosse incapaz de acolher sua voz.
Enquanto isso, Itaguaí mergulhava em uma apatia cultural. Os jovens da cidade, desanimados, encontravam mais diversão nas telas dos celulares do que nas páginas dos livros. A biblioteca estava vazia. Os encontros literários eram apenas para os membros fechados da Academia, que se reuniam para debater suas próprias ideias, girando em círculos sem avançar. Para quem estava de fora, parecia que a Academia não apenas havia parado no tempo, mas também bloqueado o caminho para o futuro.
John, porém, não era do tipo que desistia. Se a Academia não queria escutá-lo, ele criaria um espaço onde sua voz pudesse ecoar. Foi assim que ele começou a organizar encontros literários na praça da cidade. Lá, com mesas improvisadas e algumas folhas rabiscadas, ele reunia curiosos, sonhadores e escritores que, como ele, haviam sido rejeitados. Suas histórias futuristas, feitas com o apoio de tecnologias modernas, começaram a atrair olhares. Jovens que nunca tinham tocado um livro encontraram na ficção científica um universo de possibilidades. E enquanto a Academia permanecia fechada em seus próprios muros, o verdadeiro movimento literário de Itaguaí ganhava vida na praça.
A cidade, lentamente, começou a mudar. Não pela Academia, que continuava presa às suas regras e tradições. Mas pelas pessoas que decidiram que o limite imposto pelo nome de Itaguaí — a pedra que resiste ao rio — poderia também ser quebrado. John Raven, o escritor rejeitado pela própria cidade, tornou-se um símbolo de resistência e de mudança. Sua ficção científica, tão desprezada pelos acadêmicos, mostrou que o futuro pode ser escrito, mesmo em um lugar onde ele parece proibido.
Itaguaí, no fim das contas, não é apenas a pedra que resiste. Pode ser a pedra que reflete — e que, apesar das barreiras, cria novas formas de ver e imaginar o mundo.
Giovanni Vellasco ; DIRETOR CULTURAL;
AFAS/ ASS.FRATERNA AMIGOS SABEDORIA
ALMA/ AMIGOS DA LITERATURA MÚSICA E ARTES
Comentários
Postar um comentário